sábado, 21 de março de 2009

A escrita da História-Pátria

Desde sua fundação, em 1838, até os primeiros anos da terceira década do século XIX o principal, senão o único, centro de estudos históricos do Brasil será o IHGB. Aqui, durante esse período, será o lugar privilegiado da produção histórica: o Brasil é pensado e as interpretações do passado brasileiro irão alavancar os vários projetos de uma visão nacional.
“O Brasil independente, portanto, precisava da história e dos historiadores para se oferecer um passado e abrir-se um futuro” (REIS, 2002, P. 26). Foi nesse contexto que em 1840 o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro lançou o desafio, através de um concurso, da elaboração de um plano para a escrita da história do Brasil. “Como se deve escrever a história do Brasil”. Foi o título da monografia premiada; seu autor foi o botânico e viajante alemão Karl Philipp Von Martius. A partir desse texto se entranhou entre as elites a interpretação do Brasil Nação.
A história de um Brasil unido, monárquico e cristão, era a história de que as elites precisavam. As elites precisavam de uma história do Brasil que elogiasse o herói português, conquistador e senhor das garantias físicas e morais do Brasil. As elites precisavam, segundo José Carlos Reis, de

"[...] uma história que não falasse de tenções, separações, contradições, exclusões, conflitos, rebeliões, insatisfações, pois uma história assim levaria o Brasil à guerra civil e à fragmentação: isto é, abortaria o Brasil que lutava para se construir como poderosa nação. O que Von Martius tinha elaborado não era uma tal história ainda, mas somente o seu projeto, que ele próprio se recusara de levar a diante. Com certeza, após avaliar a enormidade do trabalho a fazer. Faltava, portanto, o historiador brasileiro que poderia realizar tal projeto da história do Brasil "(2002, p. 28)

Martius, como vimos, apresentou o projeto de “como se deve escrever a história do Brasil” mas se recusou a levar a diante. A tarefa, então, foi assumida por Varnhagen, que teria seguido o modelo proposto pelo alemão. O “Heródoto do Brasil”, como Varnhagen é considerado, é responsável pela “mais completa e positiva colheita documental empreendida especialmente no estrangeiro” (RODRIGUES, 1978, p. 47).
Trata-se do trabalho mais importante do Varnhagen: História Geral do Brasil, de 1854. Segundo José Carlos Reis superou as principais obras sobre a história do Brasil escritas anteriormente, dentre elas História da província de Santa Cruz (1576), de Pero de Magalhães Cândavo; História do Brasil (1627), de Frei Vicente do Salvador; História da América Portuguesa (1730), de Sebastião da Rocha Pita; História do Brasil (1810), de Robert Southey. A superação, aqui não significa que as obras citadas mereçam ser descartadas.
As condições históricas viabilizam a História Geral do Brasil, pois,
"processo da independência política e a constituição do Estado Nacional amadurecem nos anos de 1850. E foi no interior desse processo histórico que ocorreu a condição favorável ao surgimento da obra de Varnhagen: a institucionalização da reflexão e da pesquisa histórica no IHGB" (REIS, 2002, pp. 23-24).

Esse pequeno texto faz parte de um trabalho que realizei em 2005. Gostaria de dá continuidade na discussão. Gostaria de receber contribuições e sugestões... Obrigado.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Dia das "Mulheres..."

Pernas em exibição, transgredindo as convenções do século XIX; cabelos, tradicionalmente longos, apareciam cortados; saias curtas prenunciavam o abandono do corpete. Tudo isso, entre outros, eram sinais e reivindicações de liberdade sexual feminina no alvorecer do século XX (hoje o mercado da moda não aceita mais mulheres que mostrem apenas pernas e bustos...). Mais do que isso. Questões como essa estão inseridas num conjunto de transformações culturais e históricas ocidentais.
A história não se transforma de um dia para o outro, bem o sabemos, nem é a mesma em todos os lugares. Também não são os mesmos homens e mulheres nos diferentes espaços geográficos e sociais. Assim, as mulheres são diferenciadas não só de acordo com a cultura, mas também através de um fator, quase que “esquecido”, chamado classe social. Isto significa que embora a fisiologia seja a mesma, os gostos, interesses e lutas são diferentes. Pois, enquanto as mulheres das classes médias de países europeus, como a Inglaterra, ou dos Estados Unidos militavam ativamente em campanhas como a “suffragettes”, sufragistas, que reivindicavam dramaticamente o direito de voto feminino, as mulheres da classe operária tinham necessidades mais urgentes do que o direito de voto. Para elas, os ganhos obtidos à custa de duríssimas jornadas de trabaho não eram apenas complementação da renda do marido.
Podes-se dizer que isso é um legado da sociedade industrial, afinal as 129 mulheres que morreram carbonizadas no dia 8 de março de 1857 não eram esposas dos patrões, eram mulheres trabalhadoras da indústria têxtil que protestavam contra as péssimas condições de trabalho e minguados salários.
Conforme Eric Hobsbawm, em sua obra A era dos impérios (2001, p. 282), na política popular da sociedade pré-industrial, as mulheres já haviam deixado sua marca. Por exemplo: Foram mulheres de Paris que marcharam sobre Versalhes demonstrando ao rei que o povo exigia o controle dos preços dos alimentos. Essa foi uma das maneiras, entre tantas outras, que a mulher participou da importante Revolução Francesa.
Viva a luta das mulheres trabalhadoras!
Que elas vivam para que nós amemos e sejamos amados!

Curiosidades:
1905, a alemã Bertha Von Suttner foi Prêmio Nobel da Paz.
1908, pouco mais de cem anos de nós, foi o ano em que foi nomeada a primeira mulher professora universitária, na Alemanha.
1909 a sueca Selma Lagerlof ganhou o Prêmio Nobel de literatura.
Alguém lembra da primeira enfermeira do Brasil, Ana Nery? E as outras mulheres que contribuiram e contribuem com este país?